Carinhosamente chamada de “Santa Mãe”, Sri Sarada Devi (1853-1920) foi consorte e companheira espiritual de Sri Ramakrishna. De acordo com os costumes vigentes na Índia daquela época, foi-lhe prometida em casamento quando tinha cinco anos de idade e ele vinte e três.
Mais tarde, ocorreram dois encontros significativos com Sri Ramakrishna: o primeiro aos 13 e o segundo aos 14 anos, quando teve a oportunidade de conviver com ele por um breve período e receber seus primeiros ensinamentos.
Aos dezoito anos, quando ainda vivia com seus pais em Jayrambati, começou a ouvir rumores de que seu marido havia enlouquecido. Nesse momento, sentiu que era seu dever de esposa ir ao seu encontro e oferecer-lhe seu apoio. Nessa época, Ramakrishna já estava totalmente dedicado às suas práticas espirituais, levando uma vida de monge celibatário. Foi nessa condição, e com toda a gentileza, que recebeu sua jovem esposa, que ficou aliviada ao concluir que ele se encontrava em perfeita saúde, tanto física como mental.
O Casamento
Ainda criança, Sarada já era devotada a Deus, e despendia a maior parte de seu tempo ajudando sua mãe nos afazeres domésticos, como cuidar de seus irmãos mais novos, vigiar o gado e levar comida até seu pai que trabalhava no campo. Ela não teve uma educação formal, mas conseguiu aprender o alfabeto bengali. Quando ela tinha cerca de seis anos de idade, casou-se com Sri Ramakrishna, de acordo com o costume predominante na Índia daqueles tempos. Entretanto, após o casamento, ela continuou a morar com seus pais, enquanto Sri Ramakrishna vivia uma vida de encantamento por Deus em Dakshineshwar.
Visita a Dakshineshwar
Templo em DakshineshwarCom a idade de dezoito anos, na companhia de seu pai, ela percorreu a pé todo o caminho de sua casa até Dakshineshwar para encontrar seu esposo. Sri Ramakrishna, que esteve imerso em intensas práticas de várias disciplinas espirituais por mais de doze anos, havia alcançado o mais elevado estado de realização espiritual, no qual podia ver Deus em todos os seres. Ele recebeu Sarada Devi com grande afeição, ensinando-lhe a levar uma vida espiritual ao mesmo tempo em que cumpria seus afazeres domésticos. Suas vidas foram de absoluta pureza e ela o serviu como sua devotada esposa e discípula.
A Vida em Dakshineshwar
Sri Ramakrishna tratou Sarada Devi como uma manifestação especial da Divina Mãe do universo (os hindus vêem Deus como Mãe, diferentemente dos ocidentais que o vêem como Pai). Em 1872, na noite do Phala-harini-Kali-puja, ele adorou Sri Sarada Devi ritualisticamente como a Mãe Divina despertando, desse modo, a maternidade universal latente nela. Quando os discípulos começaram a chegar até Sri Ramakrishna, Sarada Devi aprendeu a vê-los como seus próprios filhos.
O quarto em que ela vivia em Dakshineshwar era muito pequeno e quase sem nenhum conforto; e em muitos dias ela não teve a oportunidade de ver Sri Ramakrishna. Mas ela suportou essas e muitas outras dificuldades silenciosamente, vivendo em contentamento e paz, e servindo o crescente número de devotos que vinham ver Sri Ramakrishna.
Simplicidade e Indulgência
Embora ela fosse muito venerada por seu elevado estado espiritual e literalmente adorada como Santa Mãe, continuou a viver como uma simples mulher do vilarejo, lavando roupas, varrendo o chão, buscando água no lago, descascando vegetais, cozinhando e servindo alimentos. Em Jayrambati ela viveu com seus irmãos e suas famílias. Eles lhe deram muitos problemas, mas por estar estabelecida na consciência de Deus e devido a sua divina maternidade, sempre permaneceu calma e controlada, derramando amor e bênçãos a todos aqueles que tinham contato com ela. Como Sister Nivedita disse: “Sua vida foi uma prece longa e tranquila”.
A Mulher Ideal
Em se tratando de sua imaculada pureza, extraordinária indulgência, serviço desapegado, amor incondicional, sabedoria e iluminação espiritual, Swami Vivekananda considerou Sri Sarada Devi como o Ideal para as mulheres dos tempos modernos. Ele acreditava que, com o advento da Santa Mãe, o despertar espiritual das mulheres nos tempos modernos havia começado.
Os Últimos Dias
Sob a tensão de intenso trabalho físico, abnegação e repetidos ataques de malária, sua saúde se deteriorou nos últimos anos de sua vida, deixando este mundo no dia 21 de julho de 1920. Ela foi um modelo único de discípula ideal, monja, esposa e mestra. Para seus incontáveis filhos espirituais ela sempre foi a mãe amorosa. Todos aqueles que tiveram contato com ela sentiram-se profundamente tocados por seu amor incondicional e trabalho altruísta. Todos eram seus filhos, independente de nacionalidade, filiação religiosa ou posição social. Ninguém, jamais, foi rejeitado. Ela sempre acolheu a todos sem nenhuma distinção.